20070704

Desejos Vãos


Eu q'ria ser o mar d'altivo porte
Que ri e canta, a vastidão imensa!
Eu q'ria ser a pedra que não pensa,
A pedra do caminho, rude e forte!

Eu q'ria ser o sol, a luz intensa,
O bem do que é humilde e não tem sorte!
Eu q'ria ser a árvore tosca e densa
Que ri do mundo vão e até da morte!

Mas o Mar também chora de tristeza...
As Árvores também, como quem reza,
Abrem, aos Céus, os braços como um crente!

E o Sol altivo e forte, ao fim dum dia,
Tem lágrimas de sangue na agonia!
E as Pedras...essas...pisa-as toda a gente!...

Florbela Espanca, Poesia Completa

4 comentários:

Ema Pires disse...

Nao me posso ausentar porque imediatamente vejo mais maravilhas publicadas.
Obrigada pelo poema.
Beijinhos

avelaneiraflorida disse...

Florbela Espanca é um mundo inesgotável de sentimentos!

Vale sempre a pena reler!

Joaquim Moedas Duarte disse...

Este poema era um dos que podia ter ido para a página...
Admirável osmose entre os sentimentos humanos e o pulsar da Natureza.

avelaneiraflorida disse...

Meon...

cada um de nós é a Natureza!