Há palavras a dormir sobre o seu largo assombro
Por exemplo, se dizes Quanza ou dizes Congo
é como se houvesse pronunciado os próprios rios
Ou seja, as águas
pesadas de lama, os peixes todos e os
perigos
inumeráveis
O musgo das margens, o escuro
mistério em movimento.
Dizes Quanza ou dizes Congo e um rio corre Lento
em tua boca.
Dizes Quanza
e o ar se preenche de perfumes perplexos.
E dizes Congo
e onde o dizes há grandes aves
e súbitos sons redondos e convexos.
E dizes Quanza, ou dizes Congo
e sempre que o dizes acorda em torno
um turbilhão de águas:
a vida, em seu inteiro e infinito assombro.
José Eduardo Agualusa, Palavra de Poeta- Antologia
Imagem (C) cena de um documentário produzido por Thierry Michel
4 comentários:
O eco de África nesses nomes tão sonoros dos grandes rios...
Um poeta que também ele é um rio...
Lindo poema do Agualusa, a lembrar terras onde eu estive ainda bebé e de onde trago recordações muito vagas.
Beijinhos
Terras que eu adorava conhecer...
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