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Palavras que não morrem. Nunca morrem
se um homem as disser sempre de frente.
Palavras que não morrem.Nunca morrem
porque são a razão de quem as sente.
Palavras. Todas elas do meu povo.
Amigas. Companheiras.Namoradas.
E são o canto antigo. O canto novo
de quem não as quer ver amordaçadas.
Palavras que são vento. E tempestade.
Palavras que são sol. E são abrigo.
Verdade. Amor. Poema.Liberdade.
Palavras que são arcos. E são setas.
Com elas se defende uma canção.
As palavras são as armas que os poetas
devem fazer passar de mão em mão.
Camões lutou com elas. E por elas.
Junqueiro perfilou-as. E Cesário
abriu todas as portas e janelas
e veio à rua escrever como um operário.
As palavras do sangue. Essas palavras
que são a tua foice. O meu poema.
Palavras de suor quando tu lavras.
De alegria se escrevo e vale a pena.
Palavras que te dizem: estou aqui.
Palavras que me doem. E que eu canto.
Palavras com raíz no meu país
e que já doeram. Mas não tanto.
Palavras que não gosto de dizê-las
assim feridas. E tu amor não digas!
Palavras encarnadas. Estou a vê-las
em Maio que é o mês das raparigas.
São palavras de fogo. Mas não ardem.
Palavras simples. Do meu cantar de agora.
São palavras. Amigas que não partem.
E ficando resistem à demora.
Palavras que não morrem. Nunca morrem,
E são a minha voz. A minha gente.
Palavras que não morrem. Nunca morrem
se um homem as disser sempre de frente.
Joaquim Pessoa,
As palavras do meu canto
Imagem(C) Stephanie Poulin