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20080313

...


Na ave que passou
Recolhi o quê?
[...]
Vitorino Nemésio
in Eu, Comovido a Oeste

Imagem(C) Jorge Castro

20080216

O PAÇO DO MILHAFRE


À beira de água fiz erguer meu Paço

De Rei -Saudade das distantes milhas:

Meus olhos, minha boca eram as ilhas;

Pranto e cantiga andavam no sargaço.


Atlântico, encontrei no meu regaço

Algas, corais, estranhas maravilhas!

Fiz das gaivotas minhas próprias filhas,

Tive pulmões nas fibras do mormaço.


Enchi infusas nas salgadas ondas

E oleiro fui que as lágrimas redondas

Por fora fiz de vidro e, dentro, de água.


Os vagalhões da noite me salvavam

E, com partes iguais de sal e mágoa,

Minhas altas janelas se lavavam.


Vitorino Nemésio,
O Bicho Harmonioso
Imagem/C) www.auniao.com

20080121

O Ovo


Enchi de Oeste a minha vida,

Como se o Sol, que estira os peixes,

Me desse a terra percorrida,

O mar curvado e um não-me-deixes.


Sol fui no arco dos dias

E, pesado

Na minha luz, já mais do que o meu fogo,

Levei as ondas frias,

O vento e a vida logo.


Tudo levei, coroado de horizonte;

O amor queimei na tarde vaga,

Com uma ilha defronte.


Mas, queria, mais que o mar, bater

Ainda as praias carregadas

De passos, conchas e do haver

De aves livres lá pousadas

Que já não posso recolher.


E um ovo,

Nada mais que um ovo,

Num punhado de pó, entre juncais,

Que desse vida, penas, povo

Para as aragens e areais.


Vitorino Nemésio,
Nem Toda a Noite a Vida, (1953)
Imagem(C) Hervás Amescua

20071229

A Árvore do Silêncio


Se a nossa voz crescesse, onde era a árvore?

Em que pontas, a corola do silêncio?

Coração já cansado, és a raiz;

Uma ave te passe a outro país.


Coisas da terra são palavra:

Semeia o que calou.

Não faz sentido quem lavra

Se não colhe o que amou.


Assim, sílaba e folha, porque não

Num só ramo levá-las

Com a graça e o redondo de uma mão?


( Tu não te calas? Tu não te calas?!)


Vitorino Nemésio
Imagem retirada de Imagens Google

20070720

O OVO


Enchi de Oeste a minha vida,

Como se o Sol, que estira os peixes,

Me desse a terra percorrida,

o mar curvo e um não-me-deixes.


Sol fui no arco dos dias

E, pesado

Na minha luz, já mais do que o meu fogo,

Levei as ondas frias,

O vento e a vida logo.


Tudo levei, coroado de horizonte;

O amor queimei na tarde vaga,

Com uma ilha defronte.


Mas, queria, mais que o mar, bater

Ainda as praias carregadas

De passos, conchas e do haver

De aves livres lá pousadas

Que já não posso recolher.


E um ovo,

Nada mais que um ovo,

Num punhado de pó, entre juncais,

Que desse vida, penas, povo

Para as aragens e areais.


Vitorino Nemésio, Nem Toda a Noite a Vida
Imagem (C) Dali