Mostrar mensagens com a etiqueta Poesia António Cabral. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Poesia António Cabral. Mostrar todas as mensagens

20070627

DESCALÇA VAI PARA A FONTE...


Descalça vai para a fonte

Leonor pela verdura:

Vai formosa e não segura.


Se tivesse umas chinelas

iria melhor...mas não:

co dinheiro das chinelas

compra um pouco mais de pão.

Virá o dia em que os pés

não sintam a terra dura?

Leonor sonha de mais:

vai formosa e não segura.


Formosa! Não vale a pena

ter nos olhos uma aurora

quando na vida - que vida!

o sol já se foi embora.

Se os filhos se alimentassem

com a sua formosura...

Leonor pensa de mais

vai formosa e não segura.


Há verduras pelos prados,

há verduras no caminho;

no olmo ao pé da fonte

canta livre um passarinho,

Mas ela não canta, não,

que a voz perdeu a doçura.

Leonor sofre demais:

vai formosa e não segura.


Porque sofre? Nunca soube

nem saberá a razão.

Vai encher a talha de água,

Só não enche o coração.

Virá um dia...virá...

Os olhos voam na altura

Leonor não anda: sonha.

Vai formosa e não segura.


António Cabral, Poemas Durienses
Imagem (C) Mariana Fernandez