20070930

Saudemos o mês de Outubro...

Dead can Dance - Host of Seraphim (Atitlán Morph) e a LIDISSIMA VOZ de LISA GERARD...

A Minha Sombra


A minha sombra me perturba.
Penetra-me na alma,
Escurecendo-a,
Que a minha alma é paisagem,
E é anoite a minha sombra.
Vejo a fundura
Nas superfícies,
E a superfície nos abismos,
E no plural o singular,
E Deus nos Deuses,
Não há cegueiras visionárias
Em que atingimos
A plena luz?
E o negro do passado
Se desvanece,
E o do futuro.
A nossa alma
Tem duas asas
Uma de mocho
Outra de cotovia:
Aquela, estende-se através
Do tempo que passou;
E esta, através do tempo
Que há-de vir.
O luar prateia o nosso berço,
E a aurora doira-nos o túmulo.
Túmulo e berço, luar e aurora,
Princípio e fim, quem os distingue?
Mas, nesta confusão,
Eu adivinho,
Que tenho, em vida, a eternidade
E o infinito...
Teixeira de Pascoaes
Últimos Versos (1953)
Imagem (C) Homenagem a Pascoaes,
pintura de Mário Cesariny

20070929

Final de Setembro! Noite...



Pairas sempre entre a lua

e o Verde do teu nome,

se te vejo passar

sob as luzes do gás.


Amaste uma mulher,

uma deusa ou um mito?

Russa, nórdica ou cega,

estátua, cântico ou flor?


( És o outro Poeta

perdido no infinito

se te fito melhor)


O metal com que esfrias

o fogo àquele peito

não apaga a tormenta

dos naufrágios ao largo.



O absurdo sofrer

O Tejo a maresia

balouçam a cidade

no espaço onde o leio.



E, confundindo os dois

no aéreo sinal,

oirando capitéis,

esbeltíssimas pilastras



- fulva asa do céu
na noite matinal...



Natércia Freire, Poetas

AMIGOS....DESCULPEM-ME!!!!!!!!

As minhas "48 h diárias" sofreram um "pequeno" precalço, ontem....

Por isso, não pude visitar-vos devidamente, nem responder aos vossos, sempre agradáveis, comentários!!!!!!


Mas,vou vestir a minha pele de ...
e deixarei, hoje, TUDO EM ORDEM!!!!!!

"Brigados" pela vossa presença!!!!!!
Imagem (C) Looney Tunes

20070928

Já é dia ...


[...]


Descerro a aurora com palavras graves,

cantando. Reinvento a melodia,

o sol aberto, o amor pelas esquinas,

a marca sensual nos ombros nus,

a memória da infância, a tua face

- e canto.

Inutilmente embora,

canto.


Daniel Filipe,

Canto e Lamentação na Cidade Ocupada (excerto)

20070927

FRONTEIRA


Nos dragoeiros bagas que ninguém esmaga

a morada as janelas os jardins

vagueiam abandonados


De repente ficamos tão sós

que pela solidão unicamente se conta

a nossa vida


Em qualquer parte buscamos um rastro ardente

pela menor fenda pode olhar-se a fronteira

e às vezes é aterrador

esse fundo de deserto


José Tolentino de Mendonça,

A Noite Abre Meus Olhos


Imagem Copyright ©2007 PPGallery Ltd Fabian Perez

A perenidade de um momento...

Foto (C) Avelaneiraflorida
Pode guardar-se um momento?

Outras palavras...o mesmo sentir!!!


Regaram-no as chuvas da abastança:

E saudosas frases me vêm à lembrança.


Cumes cobertos de moitas floridas

De bordados mantos, sendas não esquecidas.


Sim, como esquecer-me das horas passadas

No tropel louco de ingénuas cavalgadas?


Ai como era doce esse meu folguedo,

Passarinho à toa esvoaçando ledo.


Dias tão felizes, bordados em flor,

Vento nas minhas vestes murmurando amor.


Ibn'Abdun (séc. XII)

in O Meu Coração é Árabe

20070926

Era por demais evidente!!!!!

Transforma-se o amador na cousa amada
Por virtude de muito imaginar;
Não tenho, logo, mais que desejar,
Pois em mim tenho a parte desejada.

Se nela está minha alma transformada,
Que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si somente pode descansar,
pois consigo tal alma está liada

Mas esta linda e pura semideia,
Que, como um acidente em seu sujeito,
Assi co a alma minha se conforma,

Está no pensamento como ideia;
(E) o vivo e puro amor de que sou feito,
Como a matéria simples busca a forma.

Luís de Camões

Iamagem (C)WEBGSpencer_Together

Transforma-se o amador...

DESCOBRI ...E RECOMENDO!!!!!


este blog VEIO alterar A MINHA vida!!!!
VISITEM-NO e não se arrependerão!!!!

PELA PAZ...



A iniciativa foi-me transmitida pelo blog Instantes da vida...


Deixo aqui o APELO a que visitem o blog e se inteirem das circunstâncias da iniciativa!

Depois....é só continuar a passar a mensagem!!!!


Esta é IMAGEM que escolho... PELA PAZ!!!!!
Para que NUNCA MAIS o ser humano faça eclodir, nos céus, nenhum cogumelo atómico,
nem nada que se lhe assemelhe...
Imagem (C) retirada da net

Ora bem...

Ganhei, sem culpa, esta menção de Silêncio Culpado!!!!

O designado:

PRÉMIO VISITANTE

Devo agora, indicar os amigos que VISITAM o meu cantinho e que pela sua persistência se vão sentando à minha mesa, aumentando-a, contribuindo para que eu aprenda novas coisas, e que descubra outras, ou tão simplesmente para deixar um aceno de carinho, de amizade...
Olhem que isto não é fácil!!!!!
agora é só continuarem .... se o entenderem!!!!
Peço, desde já, desculpa se omiti algum cantinho que visite diariamente e não apareça aqui mencionado...foi involuntário!!!!!
"BRIGADOS" pelas vossas presenças!!!!!

E estamos em outra manhã...


Passavam pelo ar aves repentinas,

O cheiro da terra era fundo e amargo,

E ao longe as cavalgadas do mar largo

Sacudiam nas areias as suas crinas.


Era o céu azul, o campo verde, a terra escura,

Era a carne das árvores elástica e dura,

Eram as gotas de sangue da resina

E as folhas em que a luz se descombina.


Eram os caminhos num ir lento,

Eram as mãos profundas do vento,

Era o livre e luminoso chamamento

Das asas dos espaços fugitiva.


Eram os pinheirais onde o céu poisa,

Era o peso e era a cor de cada coisa,

A sua quietude, secretamente viva,

E a sua exalação afirmativa.


Era a verdade e a força do mar largo,

Cuja voz, quando se quebra, sobe,

Era o regresso sem fim e a claridade

Das praias onde a direito o vento corre.


Sophia de Mello Breyner Andresen,
Paisagem
Imagem(C) Benoitcolsenet-peintures

20070925

No fim deste dia...


[..]
A Lua enorme, a lua argêntea, a Lua calma,
Imponderalizou a natureza inteira.
Descondensou-a em fluido e embebeceu-a em alma...

Triste expira uma voz na canção derradeira:

Ó meu amor, dorme, dorme
Na areia fina do mar,
Que em antes da estrela d'alva
Contigo me irei deitar!...

Que em antes da estrela d'alva
Contigo me irei deitar!...

Guerra Junqueiro

HOJE...esta SENHORA é outra vez MENINA!!!!!


FOTOS(C) AVELANEIRAFLORIDA


As mãos tremem-lhe... a custo o corpo lhe obedece...os cabelos, serpenteados de prata, ainda evocam ondas...o olhar já não é tão brilhante...nem sempre ouve bem o que se lhe diz...

Mas esta menina, adolescente , jovem mulher...lutou muito na vida! Desde sempre, acima das suas forças e sem nunca virar a cara aos desafios!
Soube enfrentar as crueldades da vida com coragem e sempre voltou a erguer-se!

O seu coração é maior do mundo! nele cabem TODOS! os familiares, os amigos, até, os desconhecidos...de quem ouve dizer que a vida lhe foi adversa!!!!

HOJE...
Vai ter um dia com as prendas que ela mais quer :

BEIJOS! dos filhos e dos netos!!!!


20070924

Mudam-se os tempos...


Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,

Muda-se o ser , muda-se a confiança;

Todo o Mundo é feito de mudança,

Tomando sempre novas qualidades.


Continuamente vemos novidades,

Diferentes em tudo da esperança;

Do mal ficam as mágoas na lembrança,

E do bem (se algum houve), as saudades.


O tempo cobre o chão de verde manto,

Que já coberto foi de neve fria,

E, enfim, converte em choro o doce canto.


E, afora este mudar-se cada dia,

Outra mudança faz de mor espanto,

Que não se muda já como soía.


Luis de Camões

Hoje dia de prendas,,,


Desta vez o " culpado" foi o Por montes e vales...

Agradeço a distinção com respeito e amizade, embora considere que outros blogs serão mais merecedores dessa atribuição.

Assim sendo, torna-se-me tarefa de monta nomear apenas oito blogs para esta distinção!

Todos aqueles que visito, de uma forma ou de outra, mostram a solidariedade em vários dos seus aspectos. Por tal motivo, entrego a TODOS os blogs amigos da minha mesa esta distinção, partilhando-a como deve ser o objectivo desta iniciativa.

Chant d'Automne

Recebi esta PRENDA de Outono de MURMURIOS...

acho que todos devem poder vê-la !!!!!

Bientôt nous plongerons dans les froides ténèbres ;

J'écoute en frémissant chaque bûche qui tombe

Tout l'hiver va entrer dans mon être : colère

Mon esprit est pareil à la tour qui succombe


J'aime de vos longs cheveux la lumière verdâtre,

Douce beauté, mais tout aujourd'hui m'est amer,

Et rien, ni votre amour, ni le boudoir, ni l'âtre,

Ne me vaut le soleil rayonnant sur la mer.


Et pourtant aimez-moi, tendre coeur ! Soyez mère,

Même pour un ingrat, même pour un méchant ;

Amante ou soeur soyez la douce éphémère

D'un glorieux automne ou d'un soleil couchant.


Courte tâche ! La tombe attend, elle est avide !

Ah ! laissez-moi mon front posé sur vos genoux,

Goûter, en regrettant l'été blanc et torride,

De l'arrière-saison le rayon jaune et doux !


(Les Fleurs du mal)

Balada do Outono


Águas e pedras do rio
Meu sono vazio
Não vão acordar
Águas das fontes calai
Ó ribeiras chorai
Que eu não volto a cantar
Rios que vão dar ao mar
Deixem meus olhos secar
Águas das fontes calai
Ó ribeiras chorai
Que eu não volto a cantar
Águas do rio correndo
Poentes morrendo
P'rás bandas do mar
Águas das fontes calai
Ó ribeiras chorai
Que eu não volto a cantar
Rios que vão dar ao mar
Deixem meus olhos secar
Águas das fontes calai
Ó ribeiras chorai
Que eu não volto a cantar
Letra e música: Zeca Afonso
(fado de Coimbra)

20070923

Au Revoir...LE MIME!!!!!!

Cantiga para quem sonha


Tu que tens dez réis de esperança e de amor

Grita bem alto que queres viver.

Compra pão e vinho, mas rouba uma flor:

Tudo o que é belo não é de vender.


Nem vendem ondas do mar,

Nem brisa ou estrelas,

Sol ou lua cheia.

Não vendem moças de amar,

Nem certas janelas,

Em dunas de areia.


Canta, canta como uma ave ou um rio,

Dá o teu braço aos que querem sonhar.

Quem trouxer mãos livres ou um assobio,

Nem é preciso que saiba cantar.


Tu que crês num mundo maior e melhor

Grita bem alto que o céu está aqui.

Tu que vês irmãos, só irmãos, em redor

Crê que esse mundo começa por ti.


Traz uma viola, um poema,

Um passo de dança,

Um sonho maduro.

Canta glosando este tema:

Em cada criança

Há um homem puro.


Canta, canta como uma ave ou um rio,

Dá o teu braço aos que querem sonhar.

Quem trouxer mãos livres ou um assobio,

Nem é preciso que saiba cantar.


VOZ: Luiz Goes

Letra: Leonel Neves

Música: João Figueiredo Gomes

in Canções de Amor e de Esperança, 1971
Imagem (C) Ralph Ray Jr.

20070922

LEIAM...É IMPORTANTE!!!!!


Ao visitar os cantinhos amigos, como faço diariamente, encontrei algo que me deu vontade de vestir a minha pele de "BARDO" e gritar estridentemente!!!!!!



Subordinado ao título DIAS DO AVESSO E A COBARDIA DOS BLOGGERS
o post deixado por http://fliscorno.blogspot.com/ deixa-nos um tema de discussão,

a meu ver ,muito significativo ,para quem aqui anda na blogosfera...



Leiam... e comentem, se o entenderem!!!

Mas é IMPORTANTE!!!!

Esta nova manhã...


O sol
a poeira
lentissima do sul.
a pedra do ar
clara e mordida,
a branca e nua
e tão antiga
poeira do sol,
vem pousar-me
nos olhos.
Ainda.



Eugénio de Andrade
in Poesia Terra de Minha Mãe

Foto Pedra_da_Cabeleira (C) Mediablog. wewebiit .biz Foz COA

20070921

Para todas as mães...

especialmente para a mãe do meu amigo Q.

Naquele fim de tarde dolorida,

foi minha mãe à fonte e viu estrelas

projectadas na água adormecida.

Levantava-se a Lua atrás das serras

e estendia brancuras sobre as ruínas

e ao longo das estradas,

como que desfolhando no ar um ramo

de magnólias divinas

e acuçenas magoadas.

E a minha mãe ia a levar a boca

à fonte pura para deixar nela

a sede que a pungia.

Por três vezes se ouviu : Ave ,Maria!

A fonte estremunhou num sobressalto,

Em redor e por cima a Noite,

nua de nuvens, virginal e calma.

O silêncio rezava no céu alto.

Abriam sonhos de oiro em cada alma.

Voltou a casa minha mãe. E enquanto

ela regava, ao fundo da varanda,

um craveiro florido

e rescendente,

perguntei-lhe, entre triste e surpreendido,

piedosamente:

- Donde vens, que não vens como costumas?

As lágrimas, que trazes nos teus olhos,

não são iguais a lágrimas nenhumas...

Iluminam a casa e dão à gente

a sensação de estrelas despegadas

das mãos de Deus abertas de repente

às nossas mãos cansadas.

Respondeu a mãe:

- É que, meu filho, fui á fonte além,

e quando me verguei para beber,

lembrou-se-me de ti o coração.

Então,

vi estrelas do céu no fundo da água,

sem limos nem escolhos.

E já não quis beber. E não bebi.

Recolhi as estrelas nos meus olhos

e trouxe-as para ti!

Moreira das Neves, Estrelas nos Olhos

in Mendigo de Deus

20070920

Canção


Vão as serenas águas

Do Mondego descendo

Mansamente, que até o mar não param;

Por onde minhas mágoas

Pouco a pouco crescendo

Para nunca acabar se começaram.

[...]

Luís de Camões
Imagem (C) ARTKEL ELFEN 1

Fado " O MEU DESEJO"

Serenata Queima das Fitas Coimbra

Saudades... de uma voz Luiz Goes A Coimbra eterna!

20070919

o Piano

a ideia partiu do cantinho amigo http://avidaeumlugarestranho.blogspot.com/
MAS VALE A PENA VER E OUVIR!!!!

Mestre Aquilino


Estava a romper a manhã, destas manhãs alvissareiras de Agosto, tão movediças que ainda as sombras correm pela terra como cabras pretas que vão sem destino e já o céu parece a Este uma suspensão aluvial de rosas, rosas brancas, mais e mais esfloradas. A distância, porém, flutuava ainda um arzinho de noite, que imprimia aos vultos tons dormidos, de quase sentida sensibilidade.


As coisas todas, pouco a pouco, vinham a lume, cresciam, tomavam a sua disposição própria, como mesa em que matinal escudeiro, de casaco branco, vai pondo toalhas alvíssimas, cristais e louças cintilantes, para o café com leite de amos ainda adormecidos. A cotovia subira ao céu e por lá se perdia, padejando a asa, a entoar o hino ao Sol nado. Ele lá rompera detrás dos montes, mais loiro que broa a sair do forno, derramando pela terra a mansa amarelidão do azeite a alastrar no prato.

[...]

Aquilino Ribeiro,
Andan Faunos pelos Bosques
Imagem© 2003-2007 Cedric Girard - All rights reserved

20070918

Viagem


Aparelhei o barco da ilusão
E reforcei a fé de marinheiro.
Era longe o meu sonho, e traiçoeiro
O mar...
(Só nos é concedida
Esta vida
Que temos;
E é nela que é preciso
Procurar
o velho paraíso
Que perdemos).
Prestes larguei a vela
E disse adeus ao cais, à paz tolhida.
Desmedida,
A revolta imensidão
Transforma dia a adia a embarcação
Numa errante e alada sepultura...
Mas corto as ondas sem desanimar.
Em qualquer aventura,
O que importa é partir, não é chegar.
Miguel Torga, Câmara Ardente

A propósito das cores...


O vermelho deve ser como o som

de uma trombeta

UM CEGO

Alucina-me a Cor! - A Rosa é como a Lira,
A Lira pelo tempo há muito engrinaldada,
E é já velha a união , a núpcia sagrada,
Entre a cor que nos prende e a nota que suspira.



Se a terra, às vezes, brota a flor que não inspira,


a teatral camélia, a branca enfastiada,


Muitas vezes, no ar perpassa a nota alada


Como a perdida cor dalguma flor que expira...







Há plantas ideais dum cântico divino,


Irmãs do oboé, gémeas do violino,


Há gemidos no azul, gritos no carmesim...



A magnólia é uma harpa etérea e perfumada.

E o cacto, a larga flor, vermelha ensanguentada,

- Tem notas marciais, soa como um clarim.

Gomes Leal

Todas as imgens contêm a resopectiva autoria

20070917

Pelo dia de hoje...



Este azul que desce por mim como uma benção...

Como um rio de águas primeiras...

devolve-me a tranquilidade da noite,

simplesmente.

Tão perto do coração.

Imagem (C) KIRK HIATT Floodwaters 2006

Visita


Adornou o meu quarto a flor do cardo,

Perfumei-o de almíscar recendente;

Vesti-me com a púrpura fulgente,

Ensaiando meus cantos, como um bardo;


Ungi as mãos e a face com o nardo

Crescido nos jardins do Oriente,

A receber com pompa, dignamente,

Misteriosa visita a quem aguardo.


Mas que filha de reis, que anjo ou que fada

Era essa que assim a mim descia,

Do meu casebre à húmida pousada?...


Nem princesas, nem fadas. Era, flor,

Era a tua lembrança que batia

As portas de ouro e luz do meu amor!


Antero de Quental, Visita
in Sonetos Completos

20070916

" Concertos...de uma noite de Setembro!

Placido Domingo "Recondita armonia" Tosca Puccini

Turismo (O)Acidental...

Nesta manhã de Setembro

há sempre um olhar para o azul infinito da distância...


Que pode ficar mais perto...

numa varanda sobre o mar!E mesmo que, o nevoeiro embacie o olhar,

a caminhada prossegue...

Até mesmo para um acidental turista ...

este canto ganha a dimensão do estar!
Fotos cedidas por (C) especial repórter

"BRIGADOS"...não preciso dizer a quem!!!!!!


Descubro de novo
uma forma densa
de ignorados fios, brancos
e seguros fios.


Por ela é que passam

agulhas e rios

com que vou ligando

o que vou amando...


[..]

Raul de Carvalho

in Poesia

20070915

Uma força ...na distância!!!!


Lanceolada de espumas e sagrada

por vastos e remotos vendavais,

aqui me tens, indestrutível força,

e absoluta solidão do homem.





Raul de Carvalho
in Poesia

Setembro...nesta manhã...


A tua voz edifica-me sílaba a sílaba

e é árvore desde a raiz aos ramos

Cantas em mim a primavera breve tempo

e depois os pássaros irão

povoar de ti novas solidões



E eu sentirei na fronte permanentemente

o sudário levemente branco do teu grande silêncio

ó canção ó país ó cidade sonhada

dominicalmente aberta ao mar que por fim pousas

na fímbria desta tua superfície


Ruy Belo, Compreensão da árvore
in Aquele Grande Rio Eufrates
Imagem (C) Anne Marie Summers

20070914

SIGTUNA

galaxism© Sharon Webb, 1997-2001

sculptusm © Sharon Webb, 1997-2001

Silente única e rúnica

é esta a capital

dos grandes transparentes

que voltam do cristal



porque é aqui que os silfos

em procissão boreal

para os meses de frio

trazem um castiçal



porque é aqui que um cisne

intangível e vago

abre a rota dos sonhos

no sal-gema do lago



porque é aqui que o céu

tem como radical

os abetos que estão

em sua pastoral



porque é aqui que o poeta

ouve a infrangível trova

que debaixo da neve


canta a que morreu jovem



e aqui fazem os séculos


pausadas esculturas

com o sono que escorre


das estrelas maduras


Natália Correia

in Poemas a Rebate

Os dias que correm...


Conheci a Beleza que não morre

E fiquei triste. Como quem da serra

Mais alta que haja, olhando aos pés a terra

E o mar, vê tudo, a maior nau ou torre,



Minguar, fundir-se, sob a luz que jorre:

Assim vi eu o Mundo e o que ele encerra

Perder a cor,bem como nuvem que erra

Ao pôr do Sol e sobre o mar discorre.


Pedindo à forma, em vão, a ideia pura,

Tropeço,em sombras, na matéria dura,

E encontro a imperfeição de quanto existe.


Recebi o baptismo dos poetas,

E, assentado entre as formas incompletas,

Para sempre fiquei pálido e triste.


Antero de Quental,

Tormento do Ideal

Imagem © João Salsa 2006

20070913

Vislumbre


A horas flébeis, outonais -
Por magoados fins de dia -
A minha Alma é água fria
Em ânforas d'Ouro...entre cristais...
Mário de Sá-Carneiro,
Poesia Completa
Imagem (c) Décio Soncini

O que pode (re)fazer um poeta...


Trago uma cisma comigo:
Não torna o meu terno amigo!
Triste de mim, que farei!
Cabelo, já não te ligo...
Nunca mais te ligarei!
Lá se finou em Castela...
Vede que desgraça aquela!
Ou lá mo detém el -rei!
Toucas da Serra da Estrela,
Já nunca mais vos porei!
Se um ar alegre assemelho,
Ai, amigas, sem conselho,
Nem juízo, que farei!
Já me não assomo ao espelho...
Nem jamais me assomarei!
Ricas prendas! Todas elas
Me deu ele: sim, donzelas,
Que não vo-lo negarei!
Ah, meu cinto de fivelas,
Nunca mais te cingirei!
João de Deus, Desalento
Imagem (C) V. Vasnetsov