
Regressar à água que se dissolve na água.
Sobrevoar os salgueiros ardentes, com um nó de sal na
garganta.
Deitarmo-nos no lume da alba e acreditar que da lama cresce a cabeça feminina de um deus.
Regressar ao cheiro acre das salivas e da insónia. E à languidez sombria dos sonhos - à boca inquieta dos mortos que aprenderam a respirar a febril poeira dos astros.
Regressar com a alegria e a tristeza no ouro fundo dos teus olhos, dizias.
Mas o corpo esquecera as horas dos desencontros.
As palavras eram agora exactas, cintilantes. Esculpidas no fulgor do que não era possível adiar...porque o movimento é a arte da mudança.
E regressámos, lentamente, com a certeza de que não voltaríamos a tocar na linguagem abandonada.
[...]
Al Berto
in Dispersos