Mostrar mensagens com a etiqueta Poesia António Torrado. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Poesia António Torrado. Mostrar todas as mensagens

20080303

A Janela e o Barco


A janela abriu-se e viu, no rio,

um barco à vela.

Janela: Leva-me contigo.

Barco: Espera tu por mim.

Janela: Fica tu comigo.

Barco: Não consigo.


E partiu

rio acima.

Embaciaram-se os vidros da janela

que soltou as cortinas

a acenar, a acenar

para a esteira de espuma do barco à vela

a escoar-se, na neblina.


Tempo passou.


O barco pois claro que voltou.

Tinha de voltar.

Mal o viu

na esquina do olhar

a janela abriu-se de par em par.


Esta história chegou

ao tempo de acabar,

mas cá para mim, disse a janela,

nunca vai terminar.

Eu sigo, disse o barco.

Eu fico, disse a janela.

E gritou:

Estás ancorado no meu olhar.

As minhas vidraças embaciadas

são o teu lugar cativo.

Para onde quer que vás

hás-de ficar

comigo.


António Torrado
in Conto Estrelas em Ti,
Coord. José António Gomes
Imagem(C) Nazario Fusco