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20080606

Deixa-me dar-te o verão




O verão é feito de coisas

que não precisam de nome

um passeio de automóvel pela costa

o tempo incalculável de uma presença

o sofrimento que nos faz contar

um por um os peixes do tanque

e abandoná-los depressa

às suas voltas escuras


José Tolentino Mendonça
in A Noite Abre Meus Olhos
Imagem(C) Donnalee Dunne

20080413

CAMPO DEI FIORI


Chamas por mim em Campo dei Fiori

porque também te encanta

a expressão ilesa da doçura

que têm as frésias

aquela espécie de indiferença

que se esperaria apenas na incredulidade

mas que nelas é terna, amável

a luz que nos faz esquecer e encontrar

coisas que buscávamos

meses e meses em vão


Não sei que tempo duram as frésias

a rendição de um corpo

é sempre tão inesperada


José Tolentino Mendonça
in De Igual Para Igual
Imagem (C) Google Images

20080316

Construindo o dia...


[...]

Ouve o que diz a mulher vestida de sol

quando caminha no cimo das árvores

" a que distância deixaste

o coração?"


José Tolentino Mendonça
in A NOITE ABRE MEUS OLHOS
Imagem(C) Almada Negreiros

20080215

Regresso...


[...]


um milhão de cintilantes lanternas de papel

sobre o rio

e a alma repete a pergunta eterna


José Tolentino de Mendonça,
A Estrada Branca
Imagem(C) C. Vacher

20080107

A montanha única


Em algum momento fomos simultâneos

como dois corpos tombando na água

passávamos por portas diferentes

de forma que se prestava a tamanhas confusões

nossos gestos equivaliam-se com precisão

quando um estendia um pano de púrpura

o outro pousava um pano escarlate

quando um erguia sua lâmpada

dir-se-ia a mesma mais além a ser erguida

com os vasos idênticos

e os reservados aromas da oblação


Entre as duas tábuas de pedra

a montanha única ardia em fogo

até ao céu


José Tolentino Mendonça
A Noite Abre Meus Olhos
Imagem(C) C. Vacher

20080106

Lilases


Quando por fim a cifra infinita

que dois mundos combinam

esplender inteiramente seus motivos


a cada um caberá olhar

na lâmina de ouro

um nome inefável


o que buscámos sem um gesto

o que dissemos sem uma palavra


José Tolentino Mendonça
in A Noite Abre Meus Olhos
Imagem willow(C) infinitezoom.com.gallery3

20071002

A Tua Mão


Reconheço a tua mão nesse abandono

visível não sei se pela escuridão

ou pela luz

quase sinto a natureza da tua vida

nesta mão

elegante,íntima, delicada

os dedos em inclinação muito leve

nem chega a ser um gesto



tanto se parece a uma despedida


José Tolentino Mendonça
De Igual Para Igual
Imagem (C) Matisse