Mostrar mensagens com a etiqueta Poesia Miguel Torga. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Poesia Miguel Torga. Mostrar todas as mensagens

20080603

Jardim da Lembrança


No jardim da lembrança,
Onde cultivo as flores
Da perpétua e alada primavera,
Nem a terra se cansa,
Nem desmaiam as cores,
Nem o pólen dos sonhos desespera.

Tudo ali permanece
Fiel ao devotado jardineiro,
Que na distância tece
O halo que merece
Cada rosa acordada no canteiro
Quando o dia das rosas amanhece.

Horto da infância entre areais adultos,
Há nele ainda a sombra de dois vultos
Que debruam de amor a pequena extensão
Desse mundo florido
Onde sempre feliz, tenho vivido,
Graças à graça da imaginação.

Miguel Torga
in Poesia Completa
Imagem(C)Klee, Remembramce of a Garden, 1914

20070812

Ao POETA ...



Foi bonito

O meu sonho de amor.

Floriram em redor

Todos os campos em pousio.

Um sol de Abril brilhou em pleno estio,

Lavado e promissor

Só que não houve frutos

Dessa primavera.

A vida disse que era

Tarde demais.

E que as paixões tardias

são ironias

dos deuses desleais.

Miguel Torga, Frustação




Morre o sol nos confins do teu olhar.
Assim acaba o dia.

Numa discreta melancolia,

Os restolhos desmaiam na planura.
Cansados.

Os arados descansam.

E há um aceno de fuga e de aventura

Nos largos horizontes que se alcançam.

Miguel Torga, Poente



O rio chega à foz.

Cansada, a minha voz

Desagua em silêncio

No grande mar do tempo.

A correr apressada

Desde a nascente,

Numa crescente

Inquietação lustral,

Foi um longo caudal

De solidão

Na infinita extensão

Da humana aridez.

Agora, na exaustão da caminhada,

Encontra finalmente a paz calada,

O eterno repouso da mudez.

Miguel Torga, Estuário
Todas as fotos foram retiradas de (C) chaves.blogs.sapo.pt