Enchi de Oeste a minha vida,
Como se o Sol, que estira os peixes,
Me desse a terra percorrida,
o mar curvo e um não-me-deixes.
Sol fui no arco dos dias
E, pesado
Na minha luz, já mais do que o meu fogo,
Levei as ondas frias,
O vento e a vida logo.
Tudo levei, coroado de horizonte;
O amor queimei na tarde vaga,
Com uma ilha defronte.
Mas, queria, mais que o mar, bater
Ainda as praias carregadas
De passos, conchas e do haver
De aves livres lá pousadas
Que já não posso recolher.
E um ovo,
Nada mais que um ovo,
Num punhado de pó, entre juncais,
Que desse vida, penas, povo
Para as aragens e areais.
Vitorino Nemésio, Nem Toda a Noite a Vida
Imagem (C) Dali
4 comentários:
Olá amiga,
Gostei particularmente deste poema, simplesmente sobre o ovo, finalmente, crisol da vida.
Beijinhos
O príncipio...do principio????
"Se bem me lembro"... Um belo poema e uma excelente imagem do grande Dali.
beijinhos
Resolvi "misturar" dois génios...e nasceu um "novo" universo...
Gostaria de adivinhar o que teriam a dizer um ao outro?????
Bjks
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