20070720

O OVO


Enchi de Oeste a minha vida,

Como se o Sol, que estira os peixes,

Me desse a terra percorrida,

o mar curvo e um não-me-deixes.


Sol fui no arco dos dias

E, pesado

Na minha luz, já mais do que o meu fogo,

Levei as ondas frias,

O vento e a vida logo.


Tudo levei, coroado de horizonte;

O amor queimei na tarde vaga,

Com uma ilha defronte.


Mas, queria, mais que o mar, bater

Ainda as praias carregadas

De passos, conchas e do haver

De aves livres lá pousadas

Que já não posso recolher.


E um ovo,

Nada mais que um ovo,

Num punhado de pó, entre juncais,

Que desse vida, penas, povo

Para as aragens e areais.


Vitorino Nemésio, Nem Toda a Noite a Vida
Imagem (C) Dali

4 comentários:

Ema Pires disse...

Olá amiga,
Gostei particularmente deste poema, simplesmente sobre o ovo, finalmente, crisol da vida.
Beijinhos

avelaneiraflorida disse...

O príncipio...do principio????

papagueno disse...

"Se bem me lembro"... Um belo poema e uma excelente imagem do grande Dali.
beijinhos

avelaneiraflorida disse...

Resolvi "misturar" dois génios...e nasceu um "novo" universo...

Gostaria de adivinhar o que teriam a dizer um ao outro?????

Bjks