Aqui estão as mãos.
São os mais belos sinais da terra.
Os anjos nascem aqui:
frescos, matinais, quase de orvalho,
de coração alegre e povoado.
Ponho nelas a minha boca,
respiro o sangue, o seu rumor branco,
aqueço-as por dentro, abandonadas
nas minhas, as pequenas mãos do mundo.
Alguns pensam que são as mãos de deus,
- eu sei que são as mãos de um homem,
trémulas barcaças onde a água,
a tristeza e as quatro estações
penetram, indiferentemente.
Não lhes toquem: são amor e bondade.
Mais ainda: cheiram a madressilva.
São o primeiro homem, a primeira mulher.
E amanhece.
Eugénio de Andrade, Coração do Dia
Imagem(C) Daniel Buetti 2002
4 comentários:
S�o as m�os a sentir o cora�o.
� um poema muito belo do nosso grande Eug�nio.
Beijinhos
Por isso a sabedoria popular, antiga, experiente, sofredora, cristalizou o célebre:
"TER O CORAÇÂO NAS MÂOS!"...
Bjks
A imagem... as palavras...
Sabemos que o coração incha e desincha...mas teimamos em dizer que ele "bate". Porque será?
Eugénio sabe! E quem o lê e ama, compreende!
Olá, Avelã!!
Olá, Méon!!!!!
Eugénio vive as palavras como quem vive com o sentir...
É tão simples...que ,às vezes,nem nos apercebemos...
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