20070715

Joaquim


A primeira noite em que os remadores no alto mar se alucinaram
e a água se ouviu passar entre as estrelas,
foi revestida de ouro, de fogo e de temor. Então,
o teu nome disse-o o profundo leito do rio : Joaquim.
Na sua cor, no seu mistério, recordando o perdido ofício de peixe,
ele subiu até ao branco mais resplandecente.
Com um sabor áspero e agreste, sobreviveu como ainda hoje
sobrevivem alguns seres humanos.
Os predadores ofereceram-te por ele nacos vivos e coerentes
quando arrastate os pés e não havia rastos.
Tinhas uma ferida prateada que o vento lambia e os lobos cobiçavam.
A tua imagem desfez-se, passou de adolescente a antecipação e regresso.
Durante quinze, vinte mil anos, possívelmente mais,
ninguém pensou dar o teu nome sequer ao lodo negro.
Depois tornou-se respirável. E começando por
ladrões e foragidos, veio a ser de profetas e de monges
e, diz-se, chegará a ser nome de pássaro. Quem sabe?
É maleável. Cantável. Doce. Tem as tábuas da paixão,
vem nos antiquíssimos livros da vida e da morte.
Mas um nome contente só pode levantar os olhos
quando soar azul dentro de ti.
Joaquim Pessoa, Nomes

6 comentários:

Mustafa Şenalp disse...

ÇOK GÜZEL BİR SİTE.

monge disse...

olá avelaneiraflorida
ainda vamos conseguindo sobreviver mas não tardará muito, que a realidade seja essa e nem os antiquíssimos livros nos salvam, a não ser que os voltemos a ler e talvez entre linhas se consiga. Quem sabe!Fizeste uma boa escolha.
Os monges e os profetas nos dirão!

daqui, monge

avelaneiraflorida disse...

Monge,

há sempre um caminho...que seja o nosso coração a saber escolhê-lo!!!

Volta sempre!!!!

avelaneiraflorida disse...

Mutafa,
Wellcome...

Try to comment in french or in english if you please!
Best Regards.

Ema Pires disse...

Querida amiga,
Um texto lindo, como sempre e cheio de ensinamento.
Bejinhos

avelaneiraflorida disse...

As palavras são do poeta... o sentir será de quem o ler!