20070816

[ havia sempre um cais no fim]


havia sempre um cais no fim

de cada dia


temerariamente

chegavas-lhe ao limite

e ali ficavas sem dizer palavra

ficavas sempre sem dizer palavra


e a tua pulsação rendia-se ao pesar

no fundo do teu peito

o lastro de não ir


um mar mesmo a teus pés até perder de vista

até perder-se o sol no seu naufrágio brando

até ser tudo sombra e tudo

estremecer


temerariamente

ficavas mais um pouco

até ser negro o mar e ser opaca a noite

e negro o teu olhar


e então ficavas quieta ficavas mais um pouco

até ser funda a mágoa

funda como o mar


Carlos Nogueira Fino,

in funchal (2004)

6 comentários:

papagueno disse...

Bonito e triste, não conhecia este autor, vou ter que investigar :)
Beijinhos

avelaneiraflorida disse...

Papagueno,
este é um dos autores que estou a decobrir na Antologia dos Poetas das Ilhas...

Por isso, ele aqui está, para partilhar convosco!!!!

Bjks! Um BOM DIA!!!

Anónimo disse...

Também o descubro pela tua mão, Avelã. Obrigado.

avelaneiraflorida disse...

Sam,
para todos os que me dão amizade eu procuro as coisas mais bonitas que encontro para lhes retribuir...
Bj

Ema Pires disse...

A descoberta de um poeta é sempre um acontecimento. Obrigada amiga.
Beijinhos

avelaneiraflorida disse...

Em troca dos teus SÁBIOS...querida amiga!!!!!

Bjks