A segunda, do poeta António Gedeão, não precisa sequer de apresentações...
Poema da auto-estrada
Voando vai para a praia
Leonor na estrada preta
Vai na brasa de lambreta.
Leva calções de pirata,
vermelho de alizarina,
modelando a coxa fina
de imapciente nervura.
Como guache lustroso,
amarelo de indranteno
blusinha de terileno
desfraldada na cintura
Fuge,fuge Leonoreta.
Vai na brasa de lambreta.
Agarrada ao companheiro
na volúpia da escapada
pincha no banco traseiro
em cada volta da estrada.
Grita de medo fingido,
que o receio não é com ela,
mas por amor e cautela
abraça-o pela cintura.
Vai ditosa, e bem segura.
Como um rasgão na paisagem
corta a lambreta afiada,
engole as bermas da estrada
e a rumorosa folhagem.
Urrando, estremece a terra,
bramir de rinoceronte,
enfia pelo horizonte
como um punhal que se enterra.
Tudo foge à sua volta,
o céu, as nuvens , as casas,
e com os bramidos que solta
lembra um demónio com asas.
Na confusão dos sentidos
já nem percebe, Leonor,
se o que lhe chega aos ouvidos
são ecos de amor perdidos
se os rugidos do motor.
Fuge, fuge Leonoreta,
Vai na brasa de lambreta.
António Gedeão, Máquina de Fogo
2 comentários:
este é bem famoso e foi um dos meus primeiros poemas.
Protesto registado, já tinha visto os teus certificados e, mais uma vez, não reparei na dedicatória. peço desculpa.
beijinhos
EU perdoo-te...Papagueno!!!!
Mas só porque me dás pistas bonitas.... (mentira!!!!)
Tás perdoado, não sou capaz de ser Bruxa mà por muito tempo!!!!
Bjks
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