20070829

Como as cerejas II...


A segunda, do poeta António Gedeão, não precisa sequer de apresentações...


Poema da auto-estrada


Voando vai para a praia

Leonor na estrada preta

Vai na brasa de lambreta.


Leva calções de pirata,

vermelho de alizarina,

modelando a coxa fina

de imapciente nervura.

Como guache lustroso,

amarelo de indranteno

blusinha de terileno

desfraldada na cintura


Fuge,fuge Leonoreta.

Vai na brasa de lambreta.


Agarrada ao companheiro

na volúpia da escapada

pincha no banco traseiro

em cada volta da estrada.

Grita de medo fingido,

que o receio não é com ela,

mas por amor e cautela

abraça-o pela cintura.

Vai ditosa, e bem segura.


Como um rasgão na paisagem

corta a lambreta afiada,

engole as bermas da estrada

e a rumorosa folhagem.


Urrando, estremece a terra,

bramir de rinoceronte,

enfia pelo horizonte

como um punhal que se enterra.

Tudo foge à sua volta,

o céu, as nuvens , as casas,

e com os bramidos que solta

lembra um demónio com asas.


Na confusão dos sentidos

já nem percebe, Leonor,

se o que lhe chega aos ouvidos

são ecos de amor perdidos

se os rugidos do motor.


Fuge, fuge Leonoreta,

Vai na brasa de lambreta.


António Gedeão, Máquina de Fogo

2 comentários:

papagueno disse...

este é bem famoso e foi um dos meus primeiros poemas.
Protesto registado, já tinha visto os teus certificados e, mais uma vez, não reparei na dedicatória. peço desculpa.
beijinhos

avelaneiraflorida disse...

EU perdoo-te...Papagueno!!!!

Mas só porque me dás pistas bonitas.... (mentira!!!!)
Tás perdoado, não sou capaz de ser Bruxa mà por muito tempo!!!!
Bjks