As pessoas não sabem...

As pessoas não sabem, mas ele conhece e sente todos os toques da noite e do dia, do sol e da lua, da chuva e do vento, do orvalho e da terra que amadurecem um fruto. As pessoas não sabem, mas ele sabe e sente que entre o amanhecer e a noite há tudo o que cabe em cada segundo, em cada minuto, em cada hora que se fazem os dias. As pessoas não sabem, mas ele sabe e sente que entre a nascente e a foz há muito rio, e seixos redondos e lisos e areias de todas as cores e peixes de todas as espécies e águas de todas as qualidades. As pessoas não sabem, mas ele sabe e sente que um risco é mais, muito mais, do que a vontade que inicia o risco e a decisão que o termina. As pessoas não sabem, mas ele sabe e sente que entre o rapaz que é e o homem que querem que ele seja há muitas luas, sóis, chuvas, ventos, orvalhos, horas, minutos, segundos, rios, seixos, redondos e lisos, areias, peixes, águas, vontades, decisões.

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Joaquim Mestre, editora Oficina das Letras

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