20070906

PARA O MEU AMIGO Q.



É bom estarmos atentos ao rodar do tempo

O outono por exemplo tem recantos entre

dia e noite ao pé de certos troncos indecisos

cercados um por um de sombras envolventes


Rente às árvores vamos, húmidos humildes

Dizem que é outono. Mas que época do ano

toca nestas paredes que roçamos

como gente que vai à sua vida

e não avista o mar, afinal símbolo de quanto quer,

ó Deus, ó mais redonda boca para os nomes das coisas

para o nome do homem ou o homem do homem?


Banho lustral de ausência é este tempo

de pés postos na terra em puro esquecimento

E vamo-nos perdendo de nós mesmos, vamos

dispersos em bocados, vítimas do vento

ficando ali, ali, nalgum lugar que amamos

Nada mais do que terra há quem ao corpo nos prometa

Quem somos? Que dizemos?

Reúna-nos um dia o toque da trombeta


Ruy Belo,
"Efeitos Secundários" in Todos os Poemas I
Imagem (C) Maqueson Pereira da Silva

4 comentários:

Joaquim Moedas Duarte disse...

Comovo-me sempre com o "tom" inconfundível do Ruy B.. Este, por exemplo, um dos "nossos" poemas!
Obrigado!!
Fica bem!

avelaneiraflorida disse...

Méon

Ruy Belo é um meu "tesouro" INESTIMÁVEL!!!

UM BOM DIA!!!!!

Fátima disse...

Ruy Belo, conheço pouca coisa, mas este poema comoveu-me muito...
Obrigado amiga!

Vou ficar mais atenta ao seu trabalho.

Beijinho

avelaneiraflorida disse...

Amiga Fátima,
Ruy Belo é um dos poetas que se ama ou se detesta!!!!

Mas vale a pena conhecê-lo!!!! Pelo menos ir lendo devagar e ir entrando no mundo dele até o entender...
Boas Leituras!!!!
Bjks