Imagem(C) Google Images
20080531
20080530
A taça do rei de Tule
[...]
E atirou a taça ao mar, do varandim rendilhado, por que ninguém mais, bebendo por ela, viesse a conhecer os segredos daquele amor de balada, feito de suspiros e raios de lua, perfumes de laranjeira e baques de coração espezinhado.
A taça oscilou ligeiramente nas águas, fez umas reviravoltas antes de seguir mar em fora, como uma gôndola deserta que procura o gondoleiro.
E o rei considerava em voz triste:"Quem mesmo velho poderá guardar-te dia e noite, taça de amor por onde os meus lábios beberam os vinhos generosos, por essas noites perladas dos ecos das serenadas, dos perfumes festivais das rosas e da embriaguez dos profundos amores?...Abandonaram-me os meus cavaleiros e não me queixo, fugiram-me os cortesãos e estou tranquilo: só a ideia de te deixar me atormenta, pois tu guardas inteira e palpitante a história do meu coração."
[...]
Fialho de Almeida
in O País das Uvas
Imagem(C) Josephine Wall
20080529
20080528
Tu és a terra...
Tu és a terra em que pouso:
Macia, suave, tenra, e dura o quanto baste
a que teus braços como tuas pernas
tenham de amor a força que me abraça.
És também pedra qual a terra às vezes
contra que nas arestas me lacero e firo,
mas de musgo coberta refrescando
as próprias chagas de existir contigo.
E sombra de árvores, e flores e frutos,
rendidos a meu gosto e meu sabor.
E que uma água cristalina e murmurante
que me segreda só de amor no mundo.
És a terra em que pouso. Não paisagem,
não Madre.Terra nem raptada ninfa
de bosques e montanhas.Terra humana
em que me pouso inteiro e para sempre.
Jorge de Sena
in Conheço o Sal...
Imagem © Noel Myles
20080527
Canção
Se tu ouvisses
o loendro amargo chorar,
que farias, meu amor?
Suspirar!
Se tu sentisses a luz
chamar-te quando se vai,
que farias, meu amor?
Lembrar-me-ia do mar.
Se eu um dia te dissesse
- amo-te - no meu olival,
que farias, meu amor?
Cravaria este punhal!
Eugénio de Andrade,
in Poemas de Garcia Lorca
Imagem (C) Vladimir Kush
Marcadores:
Garcia Lorca,
Poesia Eugénio de Andrade
20080526
20080525
20080524
20080523
Cantiga de Amigo
Oí hoje eu ua pastor cantar,
du cavalgava per ua ribeira,
e a pastor estava i senlheira,
e ascondi-me pola ascuitar,
e dizia mui bem este cantar:
"Sô lo ramo verde frolido
vodas fazem a meu amigo;
choran olhos d'amor."
E a pastor parecia mui ben,
e chorava e estava cantando,
e eu mui passo fui-mi achegando
pola oir e sol non falei rem;
e dizia este cantar mui bem:
" Ai estorninho do avelanedo,
cantades vós e moiro eu e peno,
e d'amores hei mal."
E eu oí-a suspirar enton,
e queixava-se estando con amores,
e fazia ua guirlanda de flores;
des i chorava mui de coraçon,
e dizia este cantar enton:
"Que coita hei tan grande de sofrer:
amar amigo e non ousar veer!
E pousarei sô lo avelanal."
Pois que a guirlanda fez a pastor
foi-se cantando, indo-se en manselinho,
e tornei-me eu logo a meu caminho,
ca de a nojar nou houve sabor.
E dizia este cantar ben a pastor:
" Pela ribeira do rio
cantando ia la virgo
d'amor:
Quem amores há,
como dormirá?
Ai, bela frol !"
Airas Nunes,
CBN. 868,869,870;
C.V. 454
grafia alterada
Imagem(C) R.C. Gorman
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Poesia Medieval Airas Nunes
20080522
Na madrugada...
Só eu sei quanto me dói a separação!
Na minha nostalgia fico desterrado
À míngua de encontrar consolação.
À pena no papel não é dado
Sem que a lágrima trace, caindo teimosa,
Linhas de amor na página da face.
Se o meu grande orgulho não obstasse
Iria ver-te à noite: orvalho apaixonado
De visita às pétalas da rosa.
Al-Mu'tamid
(Beja, séc. XI)
Trad. de Adalberto Alves
in O Meu Coração é Árabe
Imagem(C) R.C.GORMAN
20080521
Madrigal
20080520
Sede
Suponho ponho
encaminho o espaço
no céu da tua boca
e teu palato
As palavras formadas
na saliva
quando bebo o vinho
em tua face
Faço o novelo
e desfaço a arte
teço com o grito da água
a tua sede
Seco com o linho do cabelo
e passo
ao lado mesmo do nó do teu abraço
Maria Teresa Horta
in Cem Poemas Portugueses no Feminino
Imagem (C) Oleg Zhivertin
20080519
Recomeço
Recomeço a partir de muito pouco,
nesta margem onde a areia, húmida e
sombria, erguida do sono,
se esvai por entre os meus dedos perdidos.
[...]
José Agostinho Baptista
in Anjos Caídos
Imagem (C) Irene Sheri
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Poesia José Agostinho Baptista
20080518
O nome lírico
Esta manhã
hoje
é um nome.
Nem mesmo amanheceu
nem o sol
a evoca.
Uma palavra
palavra só
a ergue.
Como um nome
amanhece
clareia.
Não do sol
mas de quem
a nomeia.
Fiama Hasse Pais Brandão
in Rosa do Mundo -2001 Poemas para o Futuro
Imagem (C) Irene Sheri
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poesia Fiama Hasse Pais Brandão
20080517
PROVA DE AMIZADE
Mesmo com o tempo em corrida, mesmo sem fazer as visitas aos cantinhos amigos com regularidade, mesmo que as tarefas se acumulem...
há provas de AMIZADE que nos comovem!!!!
Esta foi enviada pela AMIGA AD ASTRA
Como não me sentir comovida, mimada,agradecida?????
E para que esta MESA DE AMIGOS seja a partilha que se deseja, peço aos AMIGOS que me visitam que levem esta ternura, este mimo para os vossos cantinhos, também!
"BRIGADOS"!!!!!!!!
20080516
Noite e Dia
E então a noite caiu, para que não se falasse
do cair da noite. a noite caiu tão fria como as
últimas noites que caíram, neste principio de
Inverno, e ninguém pôs um colchão por baixo
dela para que a noite não se magoasse, ao cair.
A noite limitou-se a cair, e com ela caiu o céu
sem lua, com todas as estrelas do uiverso a
caírem com ela. Só os olhos não caíram, porque
para verem o céu e as estrelas que o enchiam
tiveram de se levantar. e foi preciso falar
do cair da noite para que os olhos tomassem
a direcção do céu, e descobrissem tudo o que
havia no céu sem lua. " Deixem cair a noite",
disse alguém. e logo alguém pediu que o
dia se levantasse, como se uma coisa estivesse
ligada à outra. Então, o dia levantou-se da
noite que caiu; e a noite caiu sobre o dia
que se levantava, para que a sua queda fosse
amparada pelo colchão do dia, e as estrelas
tivessem onde pousar, à medida que caíam.
Nuno Júdice
in As Coisas Mais Simples
Imagem (C) Ben Goossens
20080515
Azul...
E se, de repente,
voassem dos teus olhos
duas pombas azuis?
Então sim, poeta,
cairia pela primeira vez no mundo
o espanto da primavera completa.
José Gomes Ferreira
in Poesia III
Imagem (C) Google Images
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Poesia José Gomes Ferreira
20080514
E o dia se completa...
20080513
É bom regressar numa manhã clara
Manhã clara
para dar lugar à alegria
limpida e fresca
andorinhas
fazem o ar mais fresco
barcos
vâo-e-vêm
como o senhor mar
que vento tão suave
neste momento
tristeza acabou-se
para dar lugar à alegria
que vem baloiçando
baloiçando
ao sabor das ondinhas
claras e frescas
como esta manhã
António Joaquim
in A Criança e a Vida,
Maria Rosa Colaço
Imagem recebida por email sem
indicação de autor
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Leituras A Criança e a Vida
20080512
20080510
Em tempo de recordar...
[...]
Para mais realçar a beleza do quadro, vê-se por entre um claro das árvores a janela meio aberta de uma habitação antiga mas não delapidada - com certo ar de conforto grosseiro, e carregada na cor pelo tempo e pelos vendavais do sul a que está exposta. A janela é larga e baixa; parece mais ornada e também mais antiga que o resto do edifício que todavia mal se vê...
Interessou-me aquela janela.
Quem terá o bom gosto e a fortuna de morar ali?
Parei e pus-me a namorar a janela.
Encantava-me, tinha-me ali como num feitiço.
Pareceu-me entrever uma cortina branca... e um vulto por detrás... Imaginação decerto! Se o vulto fosse feminino!... era completo o romance.
Como há-de ser belo ver o pôr do sol daquela janela!...
E ouvir cantar os rouxinóis!...
E ver raiar uma alvorada de Maio!...
[...]
Almeida Garrett
in Viagens na Minha Terra
Imagem (C) Henri Martin
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Leituras Viagens na Minha Terra
20080509
E tudo era possível
Na minha juventude antes de ter saído
da casa de meus pais disposto a viajar
eu conhecia já o rebentar do mar
das páginas dos livros que já tinha lido
Chegava o mês de maio era tudo florido
o rolo das manhãs punha-se a circular
e era só ouvir o sonhador falar
da vida como se ela houvesse acontecido
E tudo se passava numa outra vida
e havia para as coisas sempre uma saída
Quando foi isso? Eu próprio não o sei dizer
Só sei que tinha o poder duma criança
entre as coisas e mim havia vizinhança
e tudo era possível era só querer.
Ruy Belo
in Homem de Palavra(s)
Imagem (C) E. Munch
20080508
SEMPRE
[...]
E a voz do mar encheu o céu e a terra
Uma voz que está cheia e que se quebra
E nunca mais acaba.
[...]
Sophia de Mello Breyner Andresen
in Cem Poemas Portugueses no Feminino
Imagem C) Donnalee Dunne
2007,Gallery 25 All Rights Reserved
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Poesia Sophia de Mello Breyner Andresen
20080507
20080506
Vaiamos,irmãa...
Vaiamos, irmãa, vaiamos dormir
[en] nas ribas do lago, u eu andar vi
a las aves meu amigo.
Vaiamos,irmãa, vaiamos folgar
[en] nas ribas do lago, u eu vi andar
a las aves meu amigo.
En nas ribas do lago, u eu andar vi,
seu arco nas man'as aves ferir,
a las aves meu anigo.
En nas ribas do lago, u eu vi andar,
seu arco na mãao a las aves tirar,
a las aves meu amigo.
Seu arco na mãao as aves ferir,
alas que cantavan leixá-las guarir,
a las aves meu amigo.
Se arco na mãao as aves tirar,
a las que cantavam nom nas quer matar,
a las aves meu amigo.
Fernando Esquio ,
(CV902,CBN 1246)
Vaiamos- vamos
ribas - margens
u - onde
tirar - atirar
guarir- deixá-las sem ferida
Imagem(C) Ruth Sanderson
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Fernando Esquio,
poesia medieval
20080505
AMIGOS...
Recebido da Querida Lídia/ Silêncio!!!! Recebido da Querida Amigona!!!
Mesmo que ande numa correria contra o tempo...OS AMIGOS dão-me sinal do seu CARINHO!!!!
RECEBI estes dois sinais de AMIZADE que muito me sensibilizaram e que aqui deixo com AGRADECIMENTO!!!!
E para que eles possam ser elos de união entre todos quantos se sentam nesta MESA DE AMIGOS, peço-vos que os leveis , também, para os vossos cantinhos!!!
"BRIGADOS" AMIGOS!!!!!!!
20080504
No tempo...nos dias...
20080502
"Cântico dos Cânticos"
Salomão
Como és bela, minha amada, como
és bela.
Teus olhos são duas pombas.
Sulamite
Como és belo, meu amado, como
és belo.
Verde de folhagem é o nosso leito verde
Salomão
As traves da nossa casa são de cedro, os forros
em madeira de cipreste.
Sulamite
Eu sou a rosa de Saron, o lírio dos vales.
Salomão
Como o lírio no meio dos cardos,
assim é a minha amada entre as outras raparigas.
Sulamite
Como a macieira entre as árvores de um pomar,
assim é o meu amado entre os homens.
- Sentei-me à sua sombra, coberta
pelos grandes frutos da sua árvore.
Levou-me o meu amado pelas câmaras da festa,
e era o amor o estandarte que ele abria sobre mim.
-Dai-me bolos de passas, reanimai-me com maçãs.
Porque eu estou doente de amor.
O seu braço esquerdo está debaixo da minha cabeça,
o seu braço direito aperta-me
fortemente.
- Suplico-vos, ó raparigas de Jerusalém,
pelas gazelas, pelas corças dos campos,
não acordeis, não acordeis o meu amor, antes que ele
o deseje.
Versão de Herberto Helder
in O Bebedor Nocturno
Imagem(C) Karine Nguyen-Tuong
Marcadores:
Poesia Cântico dos Cãnticos
20080501
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