WHO WAITS FOREVER ANYWAY?
20070430
Maio
Nas vastas águas...
Nas vastas águas que as remadas medem.
tranquila a noite está adormecida.
Desliza o barco, sem que se conheça
que o espaço ou tempo existe noutra vida,
em que os barcos naufragam, e nas praias
há cascos arruinados que apodrecem,
a desfazer-se ao sol, ao vento, à chuva,
e cujos nome se não vêem já.
Ao que singrando vai, a noite esconde o nome.
in Jorge de Sena, Visão Perpétua
tranquila a noite está adormecida.
Desliza o barco, sem que se conheça
que o espaço ou tempo existe noutra vida,
em que os barcos naufragam, e nas praias
há cascos arruinados que apodrecem,
a desfazer-se ao sol, ao vento, à chuva,
e cujos nome se não vêem já.
Ao que singrando vai, a noite esconde o nome.
in Jorge de Sena, Visão Perpétua
20070429
Uma vez, enchi a minha mão de bruma
Quando a abri, a bruma era uma larva.
Voltei a fechar a mão, e então era um pássaro.
E fechei e abri novamente a mão,
e na sua palma encontrava-se um homem
de rosto triste, virado para o céu.
Mais uma vez fechei a mão,
e quando a abri já só havia bruma.
Mas escutei uma canção de doçura extrema.
Kahlil Gibran, Areia e Espuma
20070428
20070427
20070426
URGENTEMENTE
É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.
É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.
É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.
Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer
in Eugénio de Andrade, Até Amanhã
20070425
20070424
A Knigt at Crossroads
20070423
AOS MEUS AMIGOS LIVROS!!!!!!!!!!
Aqueles onde fiz desenhos,,,
Os que comprei...
Os que me ofereceram...
Os que ofereci...
Os que troquei...
Os que emprestei...
Os que me foram emprestados....
Os que amei ler...
Os que reli e reli...
Os que não li...
Os que nunca lerei...
Todos, sem excepção, têm sido os meus mais fiéis AMIGOS!!!!!
20070422
20070421
A propósito de arcas...
20070420
20070419
20070418
Vejam o filme!!!!
20070417
Morning has broken
Morning has broken, like the first morning
Blackbird has spoken, like the first bird
Praise for the singing, praise for the morning
praise for the springing fresh from the word
Sweet the rain's new fall, sunlit from heaven
Like the first dewfall, on the first grass
Praise for the sweetness of the garden
Sprung in completeness where his feet pass
Mine is the sunlight, mine is the morning
Born of the light, Eden saw play
Praise with elation, praise every morning
God's recreation of a new day
Quem diria que este hino religioso ganharia a força que ganhou...quando passou a ser cantado por CAT STEVENS?!!!!!!
Lyrics by Eleanor Farjean
20070416
20070415
PALAVRAS DE ABRIL IV
O HOMEM DAS CASTANHAS
Na Praça da Figueira,
ou no jardim da Estrela,
num fogareiro aceso é que ele arde.
Ao canto do Outono, à esquina do Inverno,
o homem das castanhas é eterno.
Não tem eira nem beira, nem guarida,
e apregoa como um desafio.
É um cartucho pardo a sua vida,
e, se não mata a fome, mata o frio.
Um carro que se empurra,
um chapéu esburacado,
no peito uma castanha que não arde.
Tem a chuva nos olhos e tem o ar cansado
o homem que apregoa ao fim da tarde.
Ao pé dum candeeiro acaba o dia,
voz rouca com o travo da pobreza.
Apregoa pedaços de alegria,
e à noite vai dormir com a tristeza.
Quem quer quentes e boas, quentinhas?
A estalarem cinzentas, na brasa.
Quem quer quentes e boas, quentinhas?
Quem compra leva mais calor p'ra casa.
A mágoa que transporta a miséria ambulante,
passeia na cidade o dia inteiro.
É como se empurrasse o Outono diante;
é como se empurrasse o nevoeiro.
Quem sabe a desventura do seu fado?
Quem olha para o homem das castanhas?
Nunca ninguém pensou que ali ao lado
ardem no fogareiro dores tamanhas.
Quem quer quentes e boas, quentinhas?
A estalarem cinzentas, na brasa.
Quem quer quentes e boas, quentinhas?
Quem compra leva mais amor p'ra casa.
Ary dos Santos
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Lisboa menina e moça
Nunca Lisboa teve palavras tão bonitas para a cantar...
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Cavalo á Solta - Fernando Tordo (Ary dos Santos)
PALAVRAS EM ABRIL...com música
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20070414
PALAVRAS DE ABRIL III
UM HOMEM NA CIDADE
Agarro a madrugada
como se fosse uma criança
uma roseira entrelaçada
uma videira de esperança
tal qual o corpo da cidade
que manhã cedo ensaia a dança
de quem por força de vontade
de trabalhar nunca se cansa
Vou pela rua
desta lua
que no meu Tejo acende o cio
vou por Lisboa maré nua
que deságua no Rossio.
Eu sou um homem na cidade
que manhã cedo acorda e canta
e por amar a liberdade
com a cidade se levanta
Vou pela estrada
deslumbrada
da lua cheia de Lisboa
até que a lua apaixonada
creça na vela da canoa
Sou a gaivota
que derrota
todo o mau tempo no mar alto
eu sou o homem que transporta
a maré povo em sobressalto
E quando agarro a madrugada
colho a manhã como uma flor
à beira mágoa desfolhada
um malmequer azul na cor.
O malmequer da liberdade
que bem me quer como ninguém
o malmequer desta cidade
que me quer bem que me quer bem!
Nas minhas mãos a madrugada
abriu a flor de Abril também
a flor sem medo perfumada
com o aroma que o mar tem
flor de Lisboa bem amada
que mal me quis que me quer bem!
Ary dos Santos
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Poesia Abril Ary dos Santos
PALAVRAS DE ABRIL II
Por onde passaste tu
que não soubeste passar?
Pela sandália do tempo
pelo cílio do luar
pelo cílio do vento
pelo tímpano do mar?
Por onde passaste tu
que não soubeste passar?
Por onde passaste tu
que me ficaste cá dentro
tenaz do fogo divino
irmão pinho ou aloendro?
Por onde passaste tu
que me ficaste cá dentro?
Pois bem: nos campos da fome
ou nos caminhos do frio
se eu encontrasse o teu nome
lançava-te o desafio:
por onde passaste tu
pétala viva dos cerdos
rei das chagas e dos podres
- por onde passaste tu
não passaram as minhas dores!
Nasci da mãe que não tive
do pai que nunca terei
e aquilo que sobrevive
é o irmão que não sei:
uma espécie de fogueira
de corpo que me deslumbra.
Tudo o mais à minha beira
é uma réstia de sombra.
- Por onde passaste tu
com artelhos de penumbra?
Eis-me. Eis-me incendiado
por não saber perdoar.
Meu irmão passa de lado
- Eu sei como hei-de passar.
Ary dos Santos
Imagem(C) Antonio Saura
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Poesia Abril Ary dos Santos
PALAVRAS DE ABRIL I
O País
A relíquia que eu trago no meu peito
herdada de uma tia Patrocínio
é o país-paris onde me deito
sem culpa mas também sem raciocinio
O conselheiro Acácio bem me disse
nos tempos em que eu era pequenina:
-" O Padre Amaro é mau. Mas que chatice!
Não pode um padre amar uma menina..."
E o meu primo Basílio brasileiro
que foi o pai das minhas sensações!...
E o Mandarim morrendo a tempo inteiro
num país de rabichos e aldrabões?...
Carlos da Maia meu primeiro amor
primeiro livro meu primeiro beijo.
Os Maias da cidade não dão flor
e as Maias é no campo que eu as vejo.
Ramires d'uma casa ilustre e vasta
pindéricos raminhos da nobreza
a terra portuguesa ainda não basta
para as courelas todas da avareza!
E o conde de Abranhos parlamento?
E a Vera Gouvarinho a baronesa?
Mudam-se os tempos mas não muda o vento
é sempre rococó à portuguesa!
Há cem anos que eu canto esta canção
sem cabeça porém com coração.
Porque o país do Eça de Queiroz
ainda é... o País de todos nós!
Ary dos Santos
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20070413
Fields of gold
upon the fields of barley
You'll forget the sun in his jealous sky
As we walk in the fields of gold
[...]
Lyrics by Sting
20070412
20070410
Sem título
Sou um velho dragão. Pesam-me os anos lendários que me imagimaram até hoje. Receio sair da minha gruta verde musgosa porqu o sol me cega e já não posso responder-lher com o brilho quente do meu fogo...
Olho com tristeza à minha volta. Já não vejo os palácios brilhantes de altas torres. Nem as florestas cerradas e espinhosas que costumavam erguer à minha volta. É triste ser-se dragão de coisa nenhuma...
Dantes imaginava como seria a vida de dragão sonhado de mil e uma maneiras pelas louras princesas e bravos guerreiros de braços férreos. Gostava que me desafiassem. Gostava de ver a intrepidez, o perigo de me defrontarem, espelhados na fronte daqueles para quem a luta tinha a pureza de um ideal maior...
O meu fogo tornava-os mais seguros e fortes...Só por ele me podiam vencer...ou morrer. Mas, essa morte, era por eles esperad e desejada como o prémio final de toda a sua coragem. O sonho era vencerem-me. Levar o meu coração aos pés de princesas de louras tranças e deixar que a floresta cobrisse o resto do meu corpo em espinhos do esquecimento.
Agora, ninguém chega pelo caminho verde brilhante ou branco só. Espero, espero... e os meus olhos alongam-se pela floresta da longa estrada de pinheiros tão altos como a torre do castelo que fica além das nuvens.
Passam as noites negras e brilhantes que gotejam résteas de luz nas minhas escamas doridas do tempo e sinto o cheiro acre do enxofre desvanecer-se nas memórias desta caverna...
Sou um velho dragão. Repito-o a mim próprio como um encantamento maléfico que espero quebrar ao som da minha própria voz. Não acontece nada! Os mágicos não sabem o que é ser um velho dragão...
Tentei fazer amigos. Mas um dragão assusta.
A andorinha, negra como eu, não sabe dizer D-R-A-G-Ã-O... As violetas do céu da minha gruta tremem de medo quando, erguendo a cabeça, me aproximo delas para lhes perceber o azul... Até a aranha de cruz, que tece sobre mim pérolas de ar e cor, foge espavorida ao pequeno sopro do meu hálito morno...
Resta-me o fim de lenda, envolto em mistério.
Sei que ele virá pela estrada de pinheiros altos como o castelo das nuvens. Num dia bem igaul aos do passado, em que era dragão de princesas, cavleiros e palácios.
Aquela espada brilhante ser-me-à destinada. E, quando me cravar o coração, dele hão-de brotar sóis radiantes ou lágrimas de prata, como no mais antigo dos contos das Fadas...
20070409
Não Choro
A dor não me pertence.
Vive fora de mim, na natureza,
livre como a electricidade.
Carrega os céus de sombra,
entra nas plantas,
desfaz as flores...
Corre nas veias do ar,
atrai nos abismos,
curva os pinheiros...
E em certos momentos de penumbra
iguala-me à paisagem,
surge nos meus olhos
presa a um pássaro a morrer
no céu indiferente.
Mas não choro. Não vale a pena!
A dor não é humana.
José Gomes Ferreira
AMANHECER
Floresce, na orilha da campina,
esguio ipê
de copa metálica e esterlina.
Das mil corolas,
saem vespas, abelhas e besouros,
polvilhados de ouro,
a enxamear no leste, onde vão pousando
nas piritas que piscam nas ladeiras,
e no riso das acácias amarelas.
Dos charcos frios
sobem a caçá-los redes longas,
lentas e rasgadas de neblina.
Nuvens deslizam, despetaladas,
e altas, altas,
garças brancas planam.
Dançam fadas alvas,
cantam almas aladas,
na taça ampla,
na prata lavada,
na jarra clara da manhã...
João Guimarães Rosa
20070408
20070407
20070406
Romanceiro
Era por manhã de maio,
à fresca riba do mar,
Quando a Infanta Rosalinda
Ali se estava a toucar [...]
in A. Garrett, Romanceiro
à fresca riba do mar,
Quando a Infanta Rosalinda
Ali se estava a toucar [...]
in A. Garrett, Romanceiro
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Almeida Garrett Romanceiro
20070405
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