Ich hörte sage
Ich hörte sage, es sei
im Wasser ein Stein und ein Kreis
und über dem Wasser ein Wort,
das den Kreis um den Stein legt.
Ich sah meine Pappel hinabgehn zum Wasser,
ich sah, wie ihr Arm hinuntergriff in die Tiefe,
ich sah ihre Wurzeln gen Himmel um Nacht flehn.
Ich eilt ihr nicht nach,
ich las nur vom Boden auf jene Krume,
die deines Auges Gestalt hat und Adel,
ich nahm dir die Kette der Sprüche vom Hals
und säumte mit ihr den Tish, wo die Krume nun lag.
Und sah meine Pappel nicht mehr.
Paul Celan
Ouvi dizer que havia
na água uma pedra e um círculo
e sobre a água uma palavra
que dispõe o círculo à volta da pedra.
Vi o meu choupo descer para a água,
vi o seu braço mergulhar no fundo,
vi as suas raízes suplicar noite voltadas para o céu.
Não corri atrás dele,
limitei-me a apanhar do chão essa migalha
que dos teus olhos tem a forma e a nobreza,
tirei-te do pescoço o colar daquelas falas
e debruei com ele a mesa onde agora estava a migalha.
E deixei de ver o meu choupo.
in Sete Rosas Mais Tarde. Antologia Poética,
Selecção, Tradução e Introdução de João Barrento e Y.K.Centeno
Imagem (C)Friederike Kimmerle, Auge der Zeit, 2000
20081029
20081026
20081022
Neste final de mais um dia (aqui)...
A mão esquerda e a mão direita são talvez uma só
quando se corta a água em pedaços ou quando, acima do vazio,
tudo permanece inalterável.
Nos caminhos da música movem-se as sombras daquilo que se busca,
o que vive impassível entre o claro e o escuro,
entre o que se diz e o que se escuta,
entre o limite e a plenitude. Como
poderei explicar-me sem palavras,
como podem as palavras explicar-te?
A minha mão esquerda e a tua mão direita
são talvez uma só quando as envolve a ligadura da água
ou quando, injustamente, esquecemos toda
a inquietação.
Joaquim Pessoa
in À Mesa do Amor
Imagem(C)NamJunePaik
Studio Azzurro Immagini
Vive Electa 2005
20081017
20081012
No princípio era a água...
Renasce dela e liquefaz-se em gotas de verde novidade.Goteja nas paredes e nas vidraças remirando-se contra a luz. Água. Água fresca , dessedentada e perene. Filtro de vida. Berço e última morada. Charco. Nascente e leito.Margem e cascata. Eternamente fluida.
Água. Imenso mar de luzes suspensas. De sombras aterrorizantes. Densa. Profunda. Água férrea de destino benfajezo. De movediças passagens. Marcas.Movimentos. Pesos e medidas de um sempre quotidiano. Águas.
Água.
Fotografia(C) Avelaneira Florida
20081011
Uma Lisboa de outros tempos...
"BRIGADOS" minha querida Amiga C.T. !!!!!!!
Marcadores:
LISBOA,
planta medieval 3 D
20081009
Um dia depois...
É assim que te quero, amor,
assim, amor, é que eu gosto de ti,
tal como te vestes
e como arranjas
os cabelos e como
a tua boca sorri,
ágil como a água
da fonte sobre as pedras puras,
é assim que te quero, amada,
Ao pão não peço que me ensine,
mas antes que não me falte
em cada dia que passa.
Da luz nada sei, nem donde
vem nem para onde vai,
apenas quero que a luz alumie,
e também não peço à noite explicações,
espero-a e envolve-me,
e assim tu pão e luz
e sombra és.
Chegastes à minha vida
com o que trazias,
feita
de luz e pão e sombra, eu te esperava,
e é assim que preciso de ti,
assim que te amo,
e os que amanhã quiserem ouvir
o que não lhes direi, que o leiam aqui
e retrocedam hoje porque é cedo
para tais argumentos.
Amanhã dar-lhes-emos apenas
uma folha da árvore do nosso amor, uma folha
que há-de cair sobre a terra
como se a tivessem produzido os nosso lábios,
como um beijo caído
das nossas alturas invencíveis
para mostrar o fogo e a ternura
de um amor verdadeiro.
Fotografia (C) Avelaneira Florida
20081007
20081003
20081002
Soneto
Dois amantes ditosos fazem um único pão,
uma gota de luar sobre a erva,
ao andar deixam duas sombras que se reúnem,
deixam um único sol vazio numa cama.
De todas as verdades escolheram o dia:
não se ataram com fios mas com um aroma,
e não despedaçam a paz nem as palavras.
A ventura é uma torre transparente.
O ar, o vinho vão com os dois amantes,
a noite oferece-lhes suas pétalas ditosas,
a todos os cravos têm eles direito.
Dois amantes ditosos não têm fim nem morte,
enquanto vivem, nascem e morrem muitas vezes,
têm a eternidade que é da natureza.
Pablo Neruda
in Antologia
Selecção e Tradução de José Bento
Imagem(C) Rudi Klempert
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