Naquele fim de tarde dolorida,
foi minha mãe à fonte e viu estrelas
projectadas na água adormecida.
Levantava-se a Lua atrás das serras
e estendia brancuras sobre as ruínas
e ao longo das estradas,
como que desfolhando no ar um ramo
de magnólias divinas
e acuçenas magoadas.
E a minha mãe ia a levar a boca
à fonte pura para deixar nela
a sede que a pungia.
Por três vezes se ouviu : Ave ,Maria!
A fonte estremunhou num sobressalto,
Em redor e por cima a Noite,
nua de nuvens, virginal e calma.
O silêncio rezava no céu alto.
Abriam sonhos de oiro em cada alma.
Voltou a casa minha mãe. E enquanto
ela regava, ao fundo da varanda,
um craveiro florido
e rescendente,
perguntei-lhe, entre triste e surpreendido,
piedosamente:
- Donde vens, que não vens como costumas?
As lágrimas, que trazes nos teus olhos,
não são iguais a lágrimas nenhumas...
Iluminam a casa e dão à gente
a sensação de estrelas despegadas
das mãos de Deus abertas de repente
às nossas mãos cansadas.
Respondeu a mãe:
- É que, meu filho, fui á fonte além,
e quando me verguei para beber,
lembrou-se-me de ti o coração.
Então,
vi estrelas do céu no fundo da água,
sem limos nem escolhos.
E já não quis beber. E não bebi.
Recolhi as estrelas nos meus olhos
e trouxe-as para ti!
Moreira das Neves, Estrelas nos Olhos
in Mendigo de Deus
14 comentários:
"Que bonita poesia" - diz a minha estrela, caída do céu e recolhida na fonte onde jorra a cristalina amizade que ampara os meus dias.
Que bela imagem! Tão próxima da ternura do beijo de despedida...
E eles lá vão, ar fora, para o longe e a distância.
Mas... "Estamos juntos" !!
Obrigado pela tua presença constante.
Querida amiga
Lindo poema!
Deixo aqui também a minha homenagem, as todas as mães do mundo.
Bom fim de semana
Beiinhos
Mulher
Mulher…
Que carregas no ventre o teu fruto
Que lhe dás o teu pão, o teu amor
A tua vida…
Que lutas, que sofres, que amas…
Que te maltratam, que te escorraçam
Que te matam!
Mulher…
Que és mãe, esposa, amante
Companheira…
Que labutas, que choras, que ris…
Que não tens pão, não tens dinheiro
Mas tens dor, sofrimento, angústia
Desilusão…
Mulher…
Que queres vencer, queres amar
Queres aos filhos tudo dar…
Mas não tens casa
Não tens pão
Mas tens amargura, dor…
E frustração
Mulher pobre
Pobre mulher…
Que angustia por não teres
O pão para aos teus filhos dares!
Sofres a dor…de os ver morrer.
Mário Margaride
IN "O ECO DAS PALAVRAS"
Maravilhoso!
Um beijo e bom fim de semana para ti Avelaneira
Méon,
"brigados".
Que a VIDA seja uma dádiva constante...
"Não há longe nem distância" -R. Bach
UM BOM FIM DE SEMANA!!!!!!!
Amigo Mário,
que bela partilha!!!!
Que bom ter um poeta amigo que vem sentar-se à minha mesa e deixa aqui a sua poesia!!!!
BRIGADOS!!!!!
Bom Fim de Semana!!!!
Murmurios,
Também um fim de semana BOM!
"Brigados" pela presença!!!!
BJKS
Um poema comovente. Poesia excelente.Obrigada, amiga.
Desejo-te um bom fim de semana. Com flores.
Beijinhos
Querida Sophiamar,
As mães merecem...
UM EXCELENTE FIM DE SEMANA, com tudo o que quiseres de BOM PARA TI!!!
BJKS
Este poema é belíssimo já o tinha postado no blogue antigo para comemorar o Dia da Mãe.
Um beijinho a todas as mães do mundo, principalmente à minha.
Beijinhos
Amigo papagueno,
Todos os dias são dias das mães...
Elas merecem tudo...sobretudo quando vão ficando incapazes de viver por si próprias...
UM BEIJO PARA TODAS AS MÃES!!!
Um Bom fim de Semana para ti!!!!!
BJKS
Este poema é "una preciosidad" como se diz em Espanha, ou "une pure merveille" como se diz en francês. É que é tao lindo que faltam as palavras. E que dizer da imagem???
Abraços
Querida Ema!!!!
Os poetas são simplesmente ...assim!!!!
E nós só os sentimos quando nos tocam bem fundo!!!!
E que mãe , qualquer mãe, não merece as palavras dos poetas????
Bjks
Li este poema no Liceu, tinha 10anos. Hoje tenho 63. Transmiti-o aos meus alunos e tem-me acompanhado ao longo da minha vida. Foi com ele que me despedi da minha mãe, quando partiu... Hoje, dia da mãe, vim mitigar minha dor, lendo-o em voz alta, porque é novamente à minha mãe que o dedico...
Já ouvi este poema, intitulado precisamente "Estrelas nos Olhos", declamado na voz inconfundível de João Villaret.Sublime!!!
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