20070301

Loucos de Lisboa


Parava no café quando eu lá estava

Na voz tinha o talento dos pedintes

Entre um cigarro e outro lá cravava

a bica, ao melhor dos seus ouvintes


As mãos e o olhar da mesma cor

Cinzenta como a roupa que trazia

Num gesto que podia ser de amor

Sorria, e ao sorrir agradecia


São os loucos de Lisboa

Que nos fazem recordar

A Terra gira ao contrário

E os rios correm para o mar


Um dia numa sala do Quarteto

Passou um filme lá do hospital

Onde o esquecido filmado no gueto

Entrava como artista principal


Compramos a entrada p'ra sessão

Pra ver tal personagem no écran

O rosto maltratado era a razão

De ele não aparecer pela manhã


São os loucos de Lisboa

Que nos fazem recordar

A Terra gira ao contrário

E os rios correm para o mar


Mudamos muita vez de calendário

Como o café mudou de freguesia

Deixamos de tributo a quem lá pára

Um louco a fazer-lhe companhia


E sempre a mesma pose o mesmo olhar

De quem não mede os dias que vagueam

Sentado lá continua a cravar

Beijinhos às meninas que passeiam.


São os loucos de Lisboa

Que nos fazem recordar

A Terra gira ao contrário

E os rios correm para o mar


ALA DOS NAMORADOS/ João Gil, João Monge

1 comentário:

Joaquim Moedas Duarte disse...

Bonito poema,de que não nos apercebemos inteiramente quando ouvimos a canção. Obrigado pela possibilidade de leitura "por extenso".