20080429
20080428
Quem Ama não Dorme
Eis a história do músico Johannes Elias Alder que, aos vinte e dois anos de idade, pôs termo à vida, após tomar a decisão de nunca mais dormir.
[...] Corajosamente, acalentou, até ao seu inacreditável fim, a crença de que o sono era desperdício de tempo,e portanto, pecado, e que lhe seria mais tarde cobrado no Purgatório, pois a dormir estava-se morto, ou, pelo menos, não se vivia verdadeiramente. [...]
Marcadores:
Leituras Quem Ama não Dorme
20080427
Amanhece...
20080426
na manhã...
Pelas tuas mãos medi o mundo
E na balança pura dos teus ombros
Pesei o ouro do Sol e a palidez da Lua.
Sophia de Mello Breyner Andresen
in No Tempo Dividido
E na balança pura dos teus ombros
Pesei o ouro do Sol e a palidez da Lua.
Sophia de Mello Breyner Andresen
in No Tempo Dividido
Imagem(C) Edom Mountains
Marcadores:
Poesia Sophia de Mello Breyner Andresen
20080425
20080424
Lição de VIDA...
Os autores, Freddy e Vítor, transmitem-nos profundos sentires. Alfredina, desde os 16 anos, sofre de Ataxia de Friedrich... Vítor, por sua vez, depois dos 25 anos foi-lhe diagnosticada esclerose lateral amiótrófica...
Partilhámos, na aula, estes dizeres vindos dos seus corações. Sentimos, com emoção, como somos pequeninos, no nosso dia a dia, quando nos queixamos de futilidades...
Por isso, achámos que eles teriam lugar nesta MESA de Amigos!
E agradecemos-lhes esta imensa LIÇÃO de VIDA!!!!!
20080423
20080422
Eu queria...
20080421
20080420
A pão sabem as palavras...
A pão sabem as palavras,
quando a brisa do sul nos roça a cara.
Seguro, nas duas mãos, as tuas mãos
e sob o peito (o teu, o meu), alastram ramos
transparentes que sustêm , na casa,
a trave-mestra, como se a raiz
de cada árvore nos amarrasse
as veias do destino do coração.
Graça Pires
in Cem Poemas Portugueses no Feminino
Imagem (C) Rafal Olbinski
20080419
20080418
20080417
20080416
20080415
Verbo
Ponho palavras em cima da mesa; e deixo
que se sirvam delas, que as partam em fatias,sílaba a
sílaba, para as levarem à boca - onde as palavras se
voltam a colar, para caírem sobre a mesa.
Assim, conversamos uns com os outros. Trocamos
palavras; e roubamos outras palavras, quando não
as temos; e damos palavras, quando sabemos que estão
a mais. Em todas as conversas sobram as palavras.
Mas há as palavras que ficam sobre a mesa, quando
nos vamos embora. Ficam frias, com a noite; se uma janela
se abre, o vento sopra-as para o chão. No dia seguinte,
a mulher a dias há-de varrê-las para o lixo.
Por isso, quando me vou embora, verifico se ficaram
palavras sobre a mesa; e meto-as no bolso, sem ninguém
dar por isso. depois guardo-as na gaveta do poema. Algum
dia, estas palavras hão-de servir para alguma coisa.
Nuno Júdice
in As coisas mais simples
Imagem (C) Google Images
20080414
Anunciando o dia....
Vai alta no céu a lua da Primavera
Penso em ti e dentro de mim estou completo.
Corre pelos vagos campos até mim uma brisa ligeira.
Penso em ti, murmuro o teu nome; e não sou eu: sou feliz.
Amanhã virás, andarás comigo a colher flores pelo campo,
E eu andarei contigo pelos campos ver-te colher flores.
Eu já te vejo amanhã a colher flores comigo pelos campos,
Pois quando vieres amanhã e andares comigo no campo a colher flores,
Isso será uma alegria e uma verdade para mim.
[...]
Alberto Caeiro
in O pastor Amoroso
Imagem(C) Richard Leblanc
20080413
CAMPO DEI FIORI
Chamas por mim em Campo dei Fiori
porque também te encanta
a expressão ilesa da doçura
que têm as frésias
aquela espécie de indiferença
que se esperaria apenas na incredulidade
mas que nelas é terna, amável
a luz que nos faz esquecer e encontrar
coisas que buscávamos
meses e meses em vão
Não sei que tempo duram as frésias
a rendição de um corpo
é sempre tão inesperada
José Tolentino Mendonça
in De Igual Para Igual
Imagem (C) Google Images
Marcadores:
Poesia José Tolentino Mendonça
20080412
nesta manhã...
Regresso devagar ao teu
sorriso como quem volta a casa.[...]
Manuel António Pina
Imagem(C) Gooogle Images
Marcadores:
Poesia Manuel António Pina
20080411
Agora sou...
Agora sou
porto de silêncio que conhece
a rota da madeira,
porta de sótão
e turbilhão de folhas
que pela cozinha, arrasta o vento.
Agora sou
a casa que conhece
múrmuras colmeias,
unhas do gato prateado,
o desatino matinal dos pássaros
e o amor das janelas pelas nuvens.
Ao perfume da erva
após a chuva
une-se o do café.
[...]
Flor Campino
in Cem Poemas Portugueses no Feminino
Imagem(C)Gary Benfield
20080410
Paráfrase
Este poema começa por te comparar
com as constelações,
com os seus nomes mágicos
e desenhos precisos,
e depois
um jogo de palavras indica
que sem ti a astronomia
é uma ciência
infeliz.
Em seguida, duas metáforas
introduzem o tema da luz
e dos contrastes
petrarquistas que existem
na mulher amada,
no refúgio triste da imaginação.
A segunda estrofe sugere
que a diversidade dos seres vivos
prova a existência
de Deus
e a tua, os mesmos tempos
que toma um por um
os atributos
que participam da tua natureza
e do espaço criador
do teu silêncio.
Uma hipérbole; Finalmente,
diz que me fazes muita falta.
Pedro Mexia
Imagem (C) Adobe Photoshop
20080408
Q.
Disse Kabir: Sobre esta árvore está um pássaro.
Dança com a alegria da vida. Ninguém sabe onde está.
E quem poderá saber qual o tema do seu canto?
Tem o ninho onde os ramos fazem a sombra
mais profunda; chega ao anoitecer e parte, voando,
pela manhã, sem ter dito uma palavra
do que queria contar.
Ninguém me fala deste pássaro que canta dentro de mim.
Não tem cor nem, sequer, é incolor. Não tem forma
nem silhueta.
Descansa à sombra do amor.
Mora no inalcançavel, no infinito e no eterno
e ninguém repara quando chega ou parte.
Profundo é o mistério. Que os sábios procurem descobrir
onde descansa este pássaro.
Joaquim Pessoa
in À Mesa do Amor
Imagem(C)Giclee Print
20080407
Ora (direis) ouvir estrelas
" Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...
E conversamos toda a noite, enquanto
A via láctea, como um pálio aberto,
Cintila.E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procura pelo céu deserto.
Direis agora " Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"
E eu vos direi: " Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas".
Olavo Bilac
Imagem (C) Charles Moffat 2006
20080406
Este dia...
20080405
Instrução Primária
Não saibas: imagina...
Deixa falar o mestre, e devaneia...
A velhice é que sabe, e apenas sabe
Que o mar não cabe
Na poça que a inocência abre na areia.
Sonha!
Inventa um alfabeto
De ilusões...
Um a-bê-cê secreto
Que soletres à margem das lições...
Voa pela janela
De encontro a qualquer sol que te sorria!
Asas? Não são precisas:
Vais ao colo das brisas,
Aias da fantasia...
Miguel Torga
in Diário IX
Imagem(C) Odilon Redon
20080404
Murmúrio
Traze-me um pouco de sombras serenas
que as nuvens transportam por cima do dia!
Um pouco de sombra, apenas,
- vê que nem te peço alegria.
Traze-me um pouco da alvura dos luares
que a noite sustenta no teu coração!
A alvura, apenas, dos ares:
- vê que nem te peço ilusão!
Traze-me um pouco da tua lembrança,
aroma perdido, saudade da flor!
-Vê que nem te digo - esperança!
-Vê que nem sequer sonho - amor!
Cecília Meireles
Imagem (C) Ferdinand Hodler
20080403
20080402
Pinta-me a curva
Pinta-me a curva destes céus...Agora,
Erecta, ao fundo, a cordilheira apruma:
Pinta as nuvens de fogo de uma em uma,
E alto, entre as nuvens, o raiar da aurora.
Solta, ondulando, os véus de espessa bruma,
E o vale pinta, e, pelo vale em fora,
A correnteza túrbida e sonora
Do Paraíba, em torvelinhos de espuma.
Pinta; mas vê de que maneira pintas...
Antes busques as cores da tristeza,
Poupando o escrínio das alegres tintas:
-Tristeza singular, estranha mágoa
De que vejo coberta a natureza,
Porque a vejo com os olhos rasos d'água...
Olavo Bilac
Imagem(C)Rebecca Hardin
20080401
Subscrever:
Mensagens (Atom)