A hora do amanhecer aproximava-se : o crepúsculo matutino alumiava frouxamente as margens do rio mal assombrado, que corria turvo e caudal com as correntes do Inverno...
A árvore monstruosa, derribada por cima da corrente, caíra sobre o alcantil fronteiro e vivia de uma vegetação moribunda...
O cavaleiro negro...não disse nada...e encaminhou-se para a estreita ponte do Sália.
Viram-no atravessar, lento como uma sombra, como uma sombra lento, hirto, solene,internar-se com Hermengarda na selva da outra margem.
Hermengarda parecia pesar toneladas. O cavaleiro negro bem se esforçava por não perder o equilibrio sobre a estreita e nodosa ponte. Grossas pérolas de suor lhe escorriam sobre a viseira deixando manchas de ferrugem na armadura. Hermengarda apertava, transida, o véu com etiqueta Armani, que guardara para aquela ocasião e em que que gastara todas as economias de vários anos de subsidios e fugas aos impostos. A outra margem estava tão distante...
Lá em baixo as águas fervilhavam e o cavaleiro negro por momentos pensou como seria referescante um banho de espuma ...e Hermengarda que tanto pesava!!!!!
Esta, apesar de transida, ainda se deteve a pensar qual seria a água de colónia que o usava o cavaleiro negro. Seria Musk ou Boisé??
Como se lhe tivesse lido o pensamento, o cavaleiro negro apenas teve forças para sibilar:
- Por Deus, senhora Hermengarda, não é própria a hora! Porque não me tornais mais leve esta tarefa?
Hermengarda pareceu despertar,então, e assumir a consciência do perigo. Desvairada olhou o abismo que parecia pronto a tragá-los e, estarrecida, esticou o dedo branco em direcção à profundeza infernal:
- Senhor, vedes o que eu estou a ver???
O cavaleiro negro olhou na mesma direcção. Nada. Apenas o abismo revolto das águas espumantes.
- Senhora, que nos perdeis. Nada vejo...!!!!
-Ali, senhor, ali!!!!! E Hermengarda apontava frenética um distante ponte daquele imenso sorvedouro.
(Sim...O que veria Hermengarda de tão importante naquela situação de perigo eminente? A antevisão da sua própria catástrofe? A previsão do futuro? O número de vendas das suas memórias em best-seller???)
Antes que Hermengarda pudesse responder, um brado angustiante se elevou da margem que tinham deixado: Os árabes!
O cavaleiro negro limpou o suor da viseira e olhou de través.De facto eram eles; horrendos e ferozes na sua fúria perseguidora. Não havia tempo a perder!!!!
- Senhora, avancemos ou estaremos perdidos! gritou o cavaleiro arrastando Hermengarda.
Esta, porém, num último esforço desprendeu-se do guante que a segurava, retrocedendo, enquanto gritava e batia com os pés:
-Daqui não saio, enquanto não reaver o que é meu! Anter as morte do perder bem tão precioso!!!!
-Mas o quê, senhora?- perguntou o cavaleiro a contas com a ferrugem que lhe atacava as dobradiças da armadura.
- Ali, em baixo... não vedes?? Ali...caído sobre aquele penhasco, prestes a ser devorado pelas águas...o meu TELEMÒVEL ÙLTIMA GERAÇÃO!!!!!!
Epílogo:
O cavaleiro negro, mal chegou ao camarim, requisitou um abre-latas para retirar a armadura.
A Hermengarda pediu um aumento de ordenado para compra de acessórios e...um novo catálogo de colónias para homem!!!
O Alexandre Herculano, que se antecipou, perdeu todos os direitos de autor.
2 comentários:
Ah! Espera!
Bem me enganaste: li de relance e não dei conta. E lá fiz o comentário, penso que ficou gravado. Depois fui reler com mais vagar.
Ah! Ah! Deste-lhe uns retoques modernistas - herege! estragaste o meu belo e grandioso texto herculaneano.
É mesmo teu, Avelã. Vejo que já estás para as curvas. Imaginação e criatividade!!
Não, Jamais!!!!!
A Herculano...o que é de Herculano!!!!
Só que eu gosto tanto do EURICO (juro que é verdade!),que não resisto a umas " tropelias"...
Valha-me Alexandre, que na tumba, já nem se revira!!!!!
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